O ano era 1990. Um sentimento de esperança parecia brotar no coração dos brasileiros. Depois de tantos anos, poderiam escolher o seu presidente. E, junto com as eleições, tão esperada por muitos, o famigerado horário de propaganda política. Eram 60 minutos que transformavam-se em uma eternidade.
Era sábado, e a adolescente Ana estava entediada: não tinha cinema, festa e não podia ficar na rua pois estava de castigo. Marasmo total. O que fazer? Ver TV foi a única opção que restara. Pelo menos teria um filme de terror no Supercine. E ela adorava. Viu o Jornal Nacional,
sem prestar atenção em nada. Quando começou o horário político, decidiu ir para o quarto. Sua mãe havia fechado a porta da sala. Mas antes de ir para o quarto se deitar devido ao cansaço de um dia de trabalho, despediu-se da filha.
Ana deixou e TV na sala com o som bem baixinho para não perder a novela. Pensou na vida sobre as agruras de ser a irmã mais velha. Escreveu no diário e releu a revista Destino que havia comprado na semana anterior.
Resolveu ver o final da novela. Apagou a luz e se sentou em uma poltrona que que ficava em frente à porta. O filme começou com a aparição de uma lua cheia, quase escondida pelas nuvens e embalada por uma trilha sonora um tanto quanto assustadora.
De repente, percebeu a maçaneta da porta se movendo. Alguém queria entrar na casa. Foi rápida. Agarrou-se à porta como se a sua vida dependesse disso. Não, ninguém iria fazer mal á sua família. Seu irmão e sua mãe dormiam no quarto ao lado. Os milésimos de segundos
se metamorfosearam. Eram uma eternidade. Precisava avisá-los. Mas as palavras não saíam. O grito não ecoou pela casa. Ficou preso na garganta. Ana agia como as personagens que ela mesmo criticava nos filmes de terror, que não conseguiam tomar uma atitude. Estava
apavorada. O coração batia tão forte que parecia que ia sair pela boca. Suas batidas eram um som ensurdecedor.
Foi então, que ouviu a voz familiar do outro lado da porta: Filha, abre sou eu! Ana sentou-se pálida no sofá e a mãe foi pegar um copo de água para a filha. Enquanto a Ana estava no quarto, a mãe havia resolvido sentar na varanda para admirar a lua cheia.
A mãe de Ana acabou não deixando a filha ver o filme sozinha. E ela, que detestava ver filmes de terror, acabou vendo para fazer companhia. As duas não gostaram do final da história.
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