caixa de brinquedos

Cadê?

Julinha, a neta de 7 anos, entra na cozinha e fala pra mãe:
– Mãe, a vovó me chamou de Mariazinha de novo… quem é Mariazinha?

A mãe, que fazia bolo de cenoura, para e sorri de forma triste:
– Era como sua avó me chamava quando eu era criança.
– Mas mãe, ela acha que eu sou você? Ela não lembra mais de mim? Belinha (a irmã de 11 anos) disse que a vovó perdeu a memória…Cadê as lembranças dela?

A mãe senta à mesa e chama Julinha pra sentar também e começa a explicar:
– Filha, não tem a caixa no seu quarto onde você guarda muitos brinquedos grandes e pequenos?

A menina faz que sim com a cabeça.
– Você consegue agora se lembrar de todos os brinquedos que estão lá? 

Julinha começa a contá-los mentalmente e repara que só consegue pensar em alguns deles, aqueles que ela mais pega pra brincar e responde:
– Não…
– Então – diz a mãe – com a vovó é meio parecido. A memória é como uma caixa que tem dentro da cabeça da gente. As lembranças estão guardadas dentro dela. Toda vez que a gente precisa lembrar de algo, a gente abre a caixa e deixa a lembrança sair. A caixa da memória da vovó tá com problemas para abrir e por causa disso as lembranças ficam muito paradas. Quando ela consegue abrir, elas saem meio misturadas. Mas tenha certeza: todas as lembranças dela estão lá, bem guardadinhas. Inclusive você, minha filha.

A menina fica calada, apenas absorvendo o que a mãe disse. Nisso, a avó entra na cozinha e pergunta à filha:
– Vera (a chama pelo nome da própria irmã), eu já tomei café?
– Já sim, mãe (a filha não a corrige). Daqui a pouco o almoço sai. E de tarde, depois do almoço, vai ter bolo de cenoura, o seu preferido.
– Que bom! Eu adoro bolo de cenoura! – A senhora retorna pra sala sem dizer mais nada.

A mãe pisca um olho par a filha e volta a bater a massa. Julinha vai silenciosamente para a sala, vê a avó olhando fixo para a televisão e segue para o quarto. Encosta a porta, abre sua caixa de brinquedos e os tira um a um…